Estrada Real de Moto 2024 | XRE 190
Depois de muitos anos desejando, eu percorri toda a Estrada Real de Moto em 2024. Jamais pensei que seria fácil, mas confesso que foi muito mais difícil do que eu imaginei.
Estes caminhos ligam Diamantina e Ouro Preto em Minas Gerais à Paraty e Rio de Janeiro, no estado do Rio de Janeiro. Se formaram no século XVIII, quando a Coroa Portuguesa decidiu oficializar os caminhos para o trânsito de ouro e diamantes de Minas Gerais até os portos do Rio de Janeiro, na capital e em Paraty. As trilhas que foram delegadas pela realeza ganharam o nome de Estrada Real.
Atualmente a Estrada Real é a maior rota turística do país. São mais de 1.630 quilômetros de extensão, passando por Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Hoje, ela resgata as tradições do percurso valorizando a identidade e as belezas da região.
Uma Estrada Real, 4 Caminhos
Meu sonho sempre foi percorrer o Caminho dos Diamantes e o Caminho Velho. Nunca tive um desejo forte de percorrer o Caminho Novo e pouco interesse no Caminho do Sabarabuçu. Iniciei a viagem sem a certeza de que percorreria este último.
Eu quis tornar o deslocamento de volta pra SC mais curto que o deslocamento de ida para MG, por isso eu decidi pelo sentido que o ouro ouro e do diamante faziam, saindo de Diamantina com direção a Paraty no litoral do Rio de Janeiro.
O Deslocamento de Ida
Foram 1600Km vencidos em 3 dias, do Refúgio Endorfine-se no Vale Europeu em Santa Catarina até Diamantina em Minas Gerais. Esse deslocamento seria maior do que a Estrada Real toda. Sim, uma loucura em uma Honda XRE 190, perfeita para a ER, mas considerada pequena para essa longa viagem de asfalto. Mas a moto foi super bem.
Eu usei um redutor de ruídos nos ouvidos para minimizar o barulho do vento e motor, talvez a melhor compra para essa viagem. Isso me deu um conforto incrível sem reduzir a minha segurança, já que ainda conseguia ouvir sons ao redor. Não usei ele para percorrer a Estrada Real. Também não aconselho usar o redutor em deslocamentos longos dentro de cidades, somente em velocidade mais alta nas estradas.
Diamantina
A cidade que pouco despertava o meu interesse, conquistou minha admiração assim que cheguei. O contexto histórico do Brasil em que ela está inserida é fantástico. Além de ter um centro histórico enorme e extremamente bem preservado. Além da urbanização e acervo histórico do século XVIII muito bem preservados, Diamantina surpreendentemente tem um vasto acervo de belezas naturais em seu entorno. É uma cidade para se passar, no mínimo 2 dias inteiros.
Passaporte
É nesse diamante de cidade (mas não somente nela) que você pode retirar seu passaporte, que deve ser solicitado com antecedência no site do Instituto Estrada Real. Este passaporte é o documento usado para você comprovar sua passagem pelos caminhos, onde você vai pegando carimbos em locais específicos. No site do Instituto tudo está muito bem explicado.
Além do Passaporte físico, eu recomendo fortemente que também instale o App Estrada Real onde vai encontrar todos os percursos, as cidades e muito mais informações, além de poder fazer check-ins nas localidades e receber Certificados Digitais dos caminhos.
Caminho dos Diamantes na Estrada Real
Com cerca de 400Km este foi o primeiro dos caminhos que eu percorri depois de permanecer 2 dias em Diamantina. Contando os 3 dias de deslocamento e 1 dia resolvendo um problema com as câmeras e 2 dias em Diamantina, eu já estava no meu 6º dia de viagem.
O 1° Dia de Estrada Real
Eu tinha em mente percorrer o Caminho dos Diamantes em 2 dias, mas não consegui. Este primeiro dia foi o que mais rendeu, consegui rodar 181Km de Diamantina até Morro do Pilar. Confesso que não foi a melhor amostra do que viria nos dias seguintes.
Armadilha Fatal no 2° Dia
O Caminho dos Diamantes pode ser traiçoeiro. Com uma estrada seca e empoeirada, uma curva molhada em uma obra na Estrada Real pode significar o fim da viagem para um motociclista mais animado. Sim, eu caí 2 vezes no mesmo lugar. Pode não parecer muita coisa, mas passar todo o restante da viagem mancando muda um pouco a cabeça do viajante e torna a viagem mais introspectiva. Por sorte, só o tornozelo magoado e o moral arranhado.
Não Faça Isso
Depois da Queda, que me deixaria mancando e com dores por todo restante da viagem e por 1 mês depois dela, outros problemas começaram a aparecer. Um deles foi uma pane elétrica no chicote de alimentação do sistema de navegação.
Eu uso um chicote muito bem feito, composto com mini relê auxiliar e porta fusível de 5A que é alimentado pelo pós chave. Tudo bem certinho. Mas o fusível queimou e eu não tinha outro sobressalente. Honestamente, não me lembrei dele. Mas o fusível está lá para queimar, e ele queimou. Sinal de que algo estava errado.
A solução encontrada é aquela que ninguém recomenda. Aquela solução muito errada para ser usada de forma restrita e pelo menor tempo possível. Você não deve fazer isso, a menos que esteja disposto a correr riscos de incendiar a sua moto, ou no mínimo, provocar uma pane elétrica mais grave. Mas as vezes a necessidade fala mais alto que a prudência e precisamos deixar o espirito MacGyver aflorar. E foi isso que aconteceu no segundo dia do Caminho dos Diamantes na Estrada Real.
Chegando em Ouro Preto
Depois de 3 dias, finalizei o Caminho dos Diamantes da Estrada Real. Foram dias mais difíceis do que eu imaginava. E não só pela queda que me deixou mancando e com bastante dificuldade para caminhar, mas pela dificuldade das próprias estradas que demandam atenção constante e são cansativas.
Mas a experiência de estar lá, tão longe de casa, sobretudo sozinho percorrendo estes caminhos é engrandecedora. Fazer estas viagens sozinho é para mim um ato de auto afirmação. Tomo todas as decisões sozinho. Encontro minhas hospedagens, escolho onde e o que comer, meus horários. Não dependo de ninguém para nada. Não peço informações ou a opinião de ninguém. Eu faço tudo sozinho. Para mim isso me torna cada vez mais forte e preparado.
Muitas vezes as pessoas me acessam para se informar sobre o Vale Europeu, e tudo bem sobre isso. Eu sei que sou uma referência no Circuito e fico feliz em ajudar quando posso. Mas geralmente as pessoas justificam suas perguntas mais simples com a frase: “É que como eu nunca fui aí, eu não conheço nada aí.” Para mim, uma situação como essa é a mais instigadora de todas. Eu quero para mim exatamente isso. Ir para num lugar onde eu nunca fui e não conheço nada, me virar lá sozinho, sem perguntar nada para ninguém. Isso me faz mais forte.
Caminho do Sabarabuçu na Estrada Real
O menos famoso, conhecido e falado dos 4 caminhos. O Caminho do Sabarabuçu é igualmente relevante num contexto histórico da Estrada Real, e igualmente instigador. É obrigatório para quem deseja o Certificado Especial, o que não é o meu caso. Mas eu pensei, rodei 1600km para chegar aqui nessa região e não sei quando voltarei pra cá. Vamos fazer logo esse caminho, já que eu imaginava fazê-lo em 2 dias.
Caminho Velho da Estrada Real de Moto
O Caminho Velho é o único dos quatro caminhos percorridos pela maioria dos aventureiros. Talvez por ser o mais famoso, ou o que mais representa a Estrada Real. Eu estava bastante ansioso para iniciá-lo, pois sabia que passaria por mais uma meia dúzia de cidades históricas bastante significativas.
Dia 1 – Ouro Preto à Congonhas
Dia 2 – Congonhas à Tiradentes
No Segundo dia do Caminho Velho da Estrada Real eu saí de Congonhas prometendo a mim mesmo que filmaria menos, pois assim poderia render mais, terminando a viagem mais cedo com objetivos de economizar $$. Ainda assim, compilar todos os momentos dos 160km (dobro do dia anterior) foi um grande desafio. Terminei o dia em Tiradentes no finalzinho da tarde, já sem baterias para as câmeras e sem conseguir chegar em João João del Rei. Fiquei muito surpreso com Bichinho-MG, já que estudei bem pouco a Estrada Real fora das principais cidades. Tiradentes também tem um centro histórico maravilhoso, que mostrarei no dia seguinte.
Dia 3 – Sem Balsa e a Ameaça dos Mata-Burros
Tiradentes é mesmo uma cidade muito gostosa e vale a pena ficar mais tempo por lá. Tempo que eu não tinha nessa configuração de viagem-missão.
E foi esse o único dia da viagem toda que eu pedi informação. E não funcionou. Eu procurei me informar sobre o funcionamento da balsa Caquende-Capela do Saco. Me asseguraram que ela estava funcionando e eu toquei direto pra lá. Informação equivocada.
Isso não quer dizer que não valeu a pena conhecer a vila na Represa de Camargos, que é muito agradável num local incrível. E eu estava em um dia lindo.
Mas a decepção veio depois, tentando chegar na Capela do Saco por terra. Assista.
Este Mapa será a sua melhor ferramenta durante toda a Estrada Real. Clique no quadradinho no alto a direita para abrir no seu Google Maps
(o mapa está em construção ao passo que os vídeos vão ao ar)
Android OsmAnd para Navegação Offline
Eu falo muito mais sobre esse assunto no artigo GPS para Moto.
Atualmente eu tenho usado o OsmAnd para navegação onde não conto com internet. O aplicativo baixa mapas super completos ondemand dos estados. Eu posso abrir um GPX e ele me guia pelo percurso. Mas o mais importante é a capacidade de roteamento offline. Com ela, se por qualquer motivo eu não puder seguir pelo caminho planejado, eu facilmente consigo outro caminho factível pelo aplicativo.
Existem inúmeras vantagens em sistemas de navegação baseados em Android para uma viagem de moto. Mas a que eu mais gosto é a capacidade de rodar outros aplicativos de navegação. Assim eu sempre tenho o melhor aplicativo para cada momento no mesmo aparelho, até de forma simultânea se desejar.
Também existem hardware, sejam eles smartphones ou tablets a prova d’água e poeira para serem usados nessa situação. Existem até empresas especializadas nesses equipamentos produzindo kits android devices específicos, como é o caso da Tork Racing de Portugal.
Não que eu ache os navegadores dedicados ultrapassados, só acho que eles oferecem pouco e são muito frágeis pelo que custam.
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