Como começar pedalar, sozinho ou com um grupo?
Começar pedalar sozinho foi natural pra mim. Eu sempre fiz tudo sozinho. Sou autodidata e quase tudo que aprendi foi sozinho. Não quero desmerecer instrutores, professores e amigos que nos presenteiam com dicas e ensinamentos. Afinal, aprendi sozinho, mas alguém compartilhou o conhecimento. Mas se há pouco tempo precisávamos que as pessoas nos transferissem conhecimento cara a cara, hoje podemos buscar esse conhecimento que alguém se dispõe a compartilhar de qualquer local do mundo. Então se eu tenho dúvidas sobre equipamento eu consigo, aplicando filtros para separar o joio do trigo, tirar essas dúvidas na rede.
Quando eu decidi que a bicicleta faria parte da minha rotina, foi a rede quem tirou minhas principais dúvidas antes de escolher o que queria. Depois de comprar a bicibleta, foi no Strava que descobri os locais mais pedaláveis na minha região.
Começar pedalar sozinho
E la fui eu, começar pedalar sozinho.
Hoje eu tenho uma coleção de rotas, locais e trilhas que fui descobrindo sozinho e quer saber? Eu adoro isso.
E para mim isso tudo foi ótimo, especialmente começar pedalar sozinho. Agora eu vou contar porque.
Quando comecei pedalar sozinho, descobrindo meu próprio caminho, minhas próprias aptidões e o que eu queria experimentar, que acabei gostando ou não, estava livre de qualquer influência.
Meus tempos não eram comparados com os tempos de ninguém. A minha bike não era comparada, analisada e avaliada por ninguém. E eu achava meus tempos e minha bike ótimos.
Se eu tivesse começado com outras pessoas, fatalmente eu seria um ciclista diferente hoje, talvez à caminho de me tornar o que sou agora, mas ainda seria um pouco dos outros por pura influência.
Muito treino. Pouco pedal
O que eu mais percebo, pelo menos aqui na minha região, é que o MTB é 90%performance e só 10% diversão. As pessoas saem para treinar e não para pedalar. Conheço um cara que começou a pedalar e logo fazia parte dos 90%. Ele se frustrou porque não conseguia bons resultados nas provas apesar de treinar muito. Desistiu dessa coisa toda e ficou um tempão sem pedalar. Porque se não for pedalar por performance então não interessava. Entenderam?
Então as pessoas começam a pedalar com alguém ou um grupo dentro de uma atmosfera que certamente vai fazer aflorar a competitividade que todos temos (em maior ou menor grau) dentro de nós.
As pessoas compram suas bikes de 2k, 3k e nos primeiros pedais com a galera, essa “atmosfera” faz ele acreditar que ela não é boa o suficiente para que ele seja um bom ciclista. Se ele quiser “evoluir” nos “treinos”, precisa de uma bike melhor, pelo menos 5k, 6k para o seu primeiro ano.
E ele acredita que precisa “evoluir” porque a “atmosfera” cria esse sentimento de constante evolução e competitividade para os recém chegados.
Preciso pedalar mais rápido, melhorar minha velocidade média, subir mais, ter mais conquistas no Strava.
Preciso de uma bike melhor, mais leve, uma relação melhor, guidão reto, mesa negativa.
E pronto. O MTB de rendimento ganhou mais um potencial atleta na modalidade. Talvez uma promessa de campeão.
Ninguém está aqui dizendo que o MTB de rendimento não seja bacana, ok? Então foco no assunto: Começar pedalar sozinho.
Eu pedalei por 1 ano sozinho
Eu pedalei quase todos os dias por 1 ano sozinho. Ia para vários lugares, conhecia várias estradinhas, subia vários morros e entrava em várias trilhas. Sozinho.
E fazia isso sem qualquer “atmosfera” competitiva me dizendo que eu devia fazer isso mais rápido.
Fazia isso com uma bike de R$2k, 15kg, 27v, guidão curvo e mesa positiva. E fazia tudo isso muito bem, obrigado.
Além disso, meus tempos e minha primeira bike eram perfeitos para mim e eu adorava tudo isso.
O primeiro dia com a galera
No primeiro dia do primeiro evento em que eu me vi rodeado de outros ciclistas, um deles, aqui da minha cidade e conhecido nosso me disse: “A sua bike é legal, agora precisa colocar um guidão reto e uma mesa negativa para ela ficar bonita”.
Aham? Bonita pra quem, cara pálida?
Eu e minha bike ficamos gratos por não ter pedalado com esse cara no começo. Se eu tivesse na “atmosfera” desde o início, é possível que fosse tomado por um sentimento de “errei na compra da bike”, “preciso de uma bike melhor” e outros nessa linha.
Agora a pegadinha
Depois de um tempo a Bibi começou pedalar comigo. Afinal estava nítido pra ela que eu estava me divertindo e nítido pra mim que poderia me divertir muito mais com ela junto.
Só que a Bibi não começou a pedalar sozinha. Ela começou sob a minha influência. Então ela estava em uma “atmosfera” que eu criei e que influenciava na forma como ela passaria a se relacionar com a bicicleta.
Perceberam? Não é uma questão de começar a pedalar sozinho ou não, mas de “atmosfera”.
A Atmosfera
Deixa eu dizer um ditado: “Os motivos que nos levam a casar são diferentes dos motivos que nos levam a permanecer casados”
Nós começamos a pedalar por um motivo e o mais provável é que continuemos a pedalar por outro. O ciclismo pode mudar constantemente na nossa vida conforme o tempo vai passando.
Mas, a atmosfera que nos cerca quando começamos a pedalar está para a nossa formação como ciclista, assim como o ambiente nos primeiros anos de uma criança para a sua formação como adulto.
Aquele meu amigo começou a pedalar em uma atmosfera tão competitiva que quando ele se viu sem condições de competir ele parou de pedalar. Ele não gosta de pedalar, mas competir.
E eu aposto que se a atmosfera inicial fosse outra, talvez ele até tivesse se dedicado a competições em um segundo momento, mas a sua maior paixão ainda seria por pedalar. E mesmo quando ele deixasse as competições ainda estaria amando pedalar livre por aí.
Pedalar num grupo
Pedalar num grupo é bacana? Pode ser ótimo para te ajudar a atingir os seus objetivos. Agora você quer fazer um percurso maior e precisa pedalar mais rápido? Um bom amigo pode ser a motivação que você precisa para conseguir. Quer fazer uma viagem, mas não quer ir sozinho? Chama aquele amigo do pedal. Decidiu se inscrever numa prova mas não quer fazer feio? A galera da performance sempre vai estar por aí pra te dar uma força.
Não tem nada de errado em nada disso. Não tem nada de errado pedalar com a galera.
Mas a essência do ciclista será formanda, em grande parte, lá no começo, quando você começar a pedalar.
É isso. Um pouco de filosofia com pensamentos livres que eu quis compartilhar com você. Agora me conta nos comentários o que você achou de tudo isso? E depois vem aqui pra fora, porque #AquiForaÉMaisLegal.
Definitivamente vocês são minha inspiração! Texto excelente!
antes só do que mal acompanhado.
Talvez eu comece a pedalar. Acho que é uma atividade que vou gostar bastante. Já nado, e a solitude na água é prazerosa. Gosto bastante de fazer coisas sozinho, ouvindo música. Gosto de gente tb, mas me viro bem só. Obrigado pelo texto.