Ciclista morre no Desafio Blumenau de Mountain Bike
A nossa participação no Desafio Blumenau de Mountain Bike foi traumática. Não há outra forma de descrever o que sentimos nos 15 minutos em que estivemos com o Alexandre em seus momentos finais. Também não conseguimos definir muito bem a mistura de sentimentos do dia seguinte ao ver os organizadores publicarem suas notas oficiais, simplesmente tolhendo a família, amigos e todos atletas de saberem o que realmente houve na Trilha do Pateus.
Não será nesse vídeo que mostraremos tudo o que aconteceu, não acreditamos que o vídeo da prova deva conter as cenas fortes e traumáticas do momento, em respeito à todos, mas especialmente em respeito à família.
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Mais ou menos no 21,5km do Desafio Blumenau de Mountain Bike eu e a Bianca chegamos ao Alexandre e o encontramos aparentemente sem respirar. Segundo o Jefferson que viu o momento em que passou mal, nós chegamos 10 ou 12 minutos depois dele passar mal e cair.
Iniciamos o procedimento de reanimação e imediatamente percebemos que a respiração voltou ou pelo menos voltou a ser mais forte. Não tenho certeza se ele já havia tido a primeira parada cardíaca, só tenho certeza de sentir ele respirar mais forte.
Tentávamos falar com ele sem saber se ele conseguia nos ouvir, mas se ele nos ouvisse, talvez nos desse algum sinal. O Jefferson rezava. Mais pessoas chegaram, um rapaz com treinamento de primeiros socorros. Podem imaginar o caos, mas a sensação boa em ver o Alexandre respirando novamente e ficando menos roxo. Em alguns minutos ele teria outra parada cardíaca, dessa vez, apesar de muitos esforços não conseguimos trazê-lo de volta.
O local onde o Alexandre estava fica a apenas 1,3km da saída da trilha do Pateus, e nessa saída se consegue chegar com um carro normal. É mais do que certo dizer que nesse local deveria ter um staff de alto nível, mais precisamente alguém envolvido diretamente com a organização, junto de um socorrista treinado e equipado, apoiado por alguém com um quadriciclo ou moto de trilha.
O primeiro ciclista que passou pelo Alexandre assim que ele teve a primeira convulsão desceu cerca de 10 minutos antes de nós chegarmos. Se um socorrista nessas condições estivesse ali de prontidão, naquele ponto super crítico, certamente não levaria mais do que 5 minutos para chegar ao Alexandre após ele sofrer o primeiro mal súbito. Certo mesmo é que não seriam 40 minutos, ou 20 minutos depois do falecimento.
Claro que não descartamos a possibilidade do Alexandre falecer mesmo com o atendimento profissional no tempo adequado, mas agora jamais saberemos.
Agora me falem, uma prova de 50km, com 2 trilhas difíceis de acessar, difíceis de progredir, numa lama que vocês viram depois de 1 semana de chuva. Onde é que você colocaria socorristas? Na outra trilha, tão ou até mais propensa a acidentes, também não havia sequer 1 staff.
Nas ruas e avenidas movimentadas de asfalto entra a ultima trilha e a chegada não havia 1 única faixa ou qualquer tipo de comunicação do tipo “atenção, atletas na pista”, “cuidado, ciclistas competindo”.
Também não posso deixar de tecer comentários sobre a Federação Catarinense de Ciclismo que não estabelece e fiscaliza normas de segurança rígidas para um esporte que não deixa de ser radical, como o Mountain Bike.
No outro lado da moeda estamos nós, ciclistas que reclamamos dos valores das provas espremendo os organizadores contra parede sem nos importarmos com as condições de segurança a que seremos submetidos.
Obviamente os organizadores não são todos iguais, bem como os ciclistas também não. Mas basta um olhar mais atento nas provas que participamos e conseguimos separar uns dos outros. Assim como os ciclistas que nunca estão nas provas que consideram “caras”.
Eu deveria ter postado este vídeo na nosso programa “Corridas Incríveis”, mas esta infelizmente o Desafio Blumenau de Mountain Bike não deve fazer parte dessa lista.
Para finalizar, entendo que a minha atuação deve ir muito além de trazer os fatos a público, mas principalmente de buscar a excelência em segurança nas provas de ciclismo e corrida trail. Há muito conhecimento acumulado e empresas que fazem trabalhos de nível internacional de planejamento de segurança em provas de alto risco. Elas estão bem próximas de nós e podem contribuir muito. Nós precisamos compreender que segurança custa dinheiro e torna provas mais caras, mas ainda é muito barato se comparado à vida de uma pessoa, à nossa vida.
Atualizações:
30/05/2017 – Um comissário de provas da FCC entrou em contato e nos enviou as normativas para realização de eventos em SC onde podemos encontrar 2 parágrafos magros à respeito de segurança. Apesar de ser pouco, não vimos muito desse pouco na prova.
Triste meu amigo. O Mila foi um grande cara.
Todos sentimos muito né Eleonésio. Uma pena mesmo.
Muito boa a crítica
Obrigado Nando. Espero que compreendam que a ideia é mostrar que precisamos todos melhorar.
Realmente, deveria ter stafs, se comunicando pelo rádio em várias partes do percurso, devido a chuva, e as condições do percurso que potencializavam os riscos de acidentes.. Muito triste.
As coisas não foram como deveriam, Pulga. Não podemos afirmar que o Alexandre sobreviveria caso o atendimento fosse mais rápido, mas o fato que ele não pode contar com socorro.
Infelizmente fatos assim podem vir a acontecer, cada esportista deve estar a par de seu estado fisico, agora culpar o evento pela morte do rapaz já é demais! Imagina o que deveria ser feito no Desafio dos Rochas, lá tem quase só trilha e muito mais ferradas que estas!
Criticas como a de vocês só fazem com que estes eventos de MTB seja eliminados da nossa região, pena eu pensava que vocês gostavam de pedalar.
Fica aqui a minha decepção com vocês
Ademir
Olá Ademir,
Sinto muito que pense assim. Quem sabe com o tempo você reflete mais sobre as suas palavras.
Abraços
Olá. Aqui na grande São Paulo, na cidade de Guararema, tivemos um caso parecido de falecimento de um atleta durante uma prova de MTB, do Desafio Top Bike. A falta de staff nas trilhas também implicou na falta de atendimento adequado à esse atleta que veio a falecer. Infelizmente o socorro só chegou depois do tempo! Nada foi noticiado e ninguém obteve informação oficial da empresa organizadora. Amigos nossos que participaram dos últimos momentos de vida do atleta, passaram momentos de angústia e desespero. Esperamos que em outras provas tenhamos um pouco mais de atenção com a segurança de todos nós.
Obrigado Wellington,
É bem isso mesmo. Ninguém sai de casa, passa por isso e volta o mesmo pra casa.
Um abraço
Quando uma coisa é criada como um ponto de staff ou outra coisa do tipo ,ela deve existir sim para que outras coisas não acabem.
Conheço as trilhas percorridas e tive o mesmo pensamento de ter havido quadriciclo ou moto com paramédico, parece luxo mas a ambulância do evento deveria ser mais capacitada. Será q havia desfribilador?
Outra ponto é a distância de 91kms para somente um veículo de emergência
Questão muito delicada!!! Concordo em relaçao a segurança, mas de contra partida o atleta tbm tem que ter um minimo de condiçao fisica para tal… o caso do Alexandre, infelizmente vem de historico familiar… pai, mae, e irmao.. todos faleceram por conta de problemas cardiacos… infelizmente veio acontecer com o “Mila”, correndo no quintal de casa, prestigiando o evento veio a ter uma complicaçao justamente em um lugar de dificil acesso. Vcs estao de parabens pela atitude, infelizmente nao estava ali no ocorrido para poder ao menos tentar ajudar… mas gente, nao podemos crucificar a organizaçao pela fatalidade.
Olá Maicon, obrigado pelo comentário.
Concordo com uma grande parte do que você nos colocou. Recentemente as provas tem crescido em distâncias e dificuldades. Mais morros, mais trilhas difíceis e de difícil acesso, ambientes propícios para fatalidades. E será que por isso mesmo, sabendo que muitos atletas as vezes buscam fazer mais do que estão preparados, será que não é exatamente por isso que os organizadores devem estar mais atentos nesses pontos críticos? Não sabemos se o Mila teria sobrevivido caso o socorro profissional chegasse rápido. A questão é que ele não teve a chance de ser socorrido, apesar de as notas oficiais do evento dizer que ele foi. É triste sim, mas acho que é o momento de refletirmos mais sobre segurança. Não é só a condição física. Alguém pode cair, se machucar mais sério e precisar de um socorro rápido.
Mais uma vez, obrigado pelo seu comentário. Abraços
Primeiro, Mila era filho único!!
Segundo, país dele faleceu do alzmeier!!
Mae não me recordo!!!
Você está falando besteira Maicon, a família dele não tinha histórico de problema de coração, nem irmão ele tinha, você não deveria passar informações sem ter certeza da veracidade.
Muito triste e lamentável este acontecimento com um final tão trágico Jósa.
Parabéns a você e a Bibi por tentarem reanimar o rapaz e, meus sentimentos aos amigos e familiares dele.
Sem querer culpar esta organização ou qualquer outra que promovem provas esportivas em áreas de mata ou de difícil acesso, seja de bike, de corrida de montanha ou até mesmo as de MotoCross e também sem querer usar este fato trágico como exemplo, mas as organizações, federações e os próprios atletas devem dar mais importância para a segurança neste tipo de prova, no mínimo três vezes mais do que se dá em uma prova em área urbana.
As federações devem exigir dos organizadores que o evento ofereça segurança de verdade… os organizadores devem fazer um planejamento e prever os custos com segurança e resgate e contratar pessoas realmente capacitadas para resgate em áreas remotas e os atletas devem cobrar tudo isso dos organizadores ou não se inscrever mais nas provas onde os organizadores não priorizam a segurança do atleta!
Abs